Cem anos após um cônsul inglês Roger Casement impedir um genocídio indígena na Amazônia colombiana, em 1910, a Folha de S.Paulo nos enviou para reportar sobre o personagem que inspirou um romance do escritor Mario Vargas Llosa. Os indígenas locais estavam sendo vítimas da extração de borracha na região banhada pelo rio Putumayo, num território amazônico na época disputado por Colômbia e Peru. Em La Chorrera (Colômbia) é numa região acessível por barco (15 dias de viagem a partir de Letícia) ou avião (um voo semanal partindo de Bogotá). Estive lá junto com o jornalista Roberto Kaz com o intuito de conhecer o lugar que estava sendo citado no livro "El Sueño del Celta" (o sonho do celta), do escritor peruano Mario Vargas Llosa, Nobel de Literatura de 2010.
O livro é baseado na história real de Roger Casement (1864-1916), cônsul-geral da Inglaterra no Brasil, no princípio do século passado. Em sua passagem pela América do Sul, de 1906 a 1913, na ocasião Casement foi convocado pela coroa Britânica para investigar uma suspeita de genocídio indígena na região por conta da extração de borracha. Os britânicos interromperam a extração da borracha e, com isso, a matança dos índios locais.
Nosso intuito como jornalistas era passar um dia por lá, entrevistar um professor da uma universidade e voltarmos no outro dia para Bogotá. Mas por conta do mau tempo, tivemos que permanecer no local por uma semana, o que resultou neste ensaio que mostra um pouco do cotidiano dos índios locais.
Em ritual, mascam a coca decidem sobre nossa visita
Os nativos de La Chorrera, maioria de etnia uitoto cultivam mascar a folha de coca triturada em ritual, em que o cacique Manuel Zafyama (foto) discute problemas locais entre os participantes. Diferentemente dos peruanos e dos bolivianos, que mascam a própria folha ou fazem chá, costume nas alturas andinas, eles mascam ela triturada depois de passar por um processo de defumação. Eu e o repórter Roberto Kaz pudemos provar. O pó da coca vira uma espécie de pasta na boca e, segundo os índios, não podemos engolir de uma vez, temos que deixar que ele se dissolva. Durante a reunião, os assuntos são diversos e debatidos entre eles com intuito de uma resolução. Na ocasião o assunto do momento era a visita dos "periodistas" da Folha, no caso, nós mesmos. Ainda bem que no final foi decidido que poderíamos permanecer no local e fazermos a reportagem. Até porque, só se nos jogassem rio Putumayo abaixo, porque o avião da Satena (empresa aérea que sobrevoa a região) somente mesmo em uma semana.